sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

Judo e a Disciplina


Até um passado recente, digamos, 50 anos atrás, o Judô em nosso país não tinha ainda sido descoberto por este grande número de praticantes que existe hoje. As academias, como eram chamadas as Associações ou Judô Clubes eram em pequeno número e para se iniciar a prática deste esporte, ter-se-ia que ser apresentado por um de seus alunos que se tornava como que responsável pelo apresentado. O aprendizado era bem mais difícil do que hoje em dia, principalmente para os ocidentais, porque poucos mestres davam aulas na língua portuguesa; a disciplina era como que militar e aqueles que não a aceitavam ou a descumprissem eram simplesmente convidados a não mais comparecer.
Mas estava fadado o Judô brasileiro a tornar-se um esporte popular e o grande número de aficcionados deste esporte lotaram as Associações, o que despertou o interesse em muitos pretensos e mal-preparados “professores” a abrirem novas associações e ensinarem Judô a seus afortunados discípulos, objetivando única e exclusivamente o lucro financeiro.
Com esta proliferação descontrolada de novas Associações, a concorrência tornou-se acirrada, pondo em dificuldades financeiras tanto as antigas e bem dirigidas Associações, como as mais recentemente constituídas. A sobrevivência destas entidades passou a ser bem mais difícil; para não se perder alunos, os mestres passaram a ser tolerante e a abrir mão da disciplina, se um discípulo tivesse vários irmãos na mesma Associação, a tolerância era ainda maior, pois a saída de um seria a perde de vários alunos; aí então os pais destes, sabedores desta dependência passavam a influir na Associação e até mesmo a responder por estas com a anuência pacífica do professor.
Percebeu também os mestres que a quantidade de campeões “fabricados” atraia para a Associação grande número de praticantes. Partiu então para este trabalho de Judo-Competição, onde não havia mais tempo para a doutrina filosófica e muito menos para a disciplina, queriam os dirigentes das Associações o maior número de campeões e isto a qualquer preço, porque representava a rentabilidade financeira tão almejada. Passaram a ensinar às crianças Maki-Komis originando falsos-ataques e outras aberrações que deixariam os ex-professores destes pretensos mestres muito envergonhados.
Os campeonatos promovidos pelas Federações transformaram-se em verdadeiro campo de batalha, sob uma indisciplina crescente passaram os atletas, dirigentes de clubes e alguns “professores” a desrespeitar os árbitros e dirigentes resolveram afastar-se, pois não se viam obrigados a conviver em este ambiente tão distante do Judô que eles conheceram; outros, como nós, confiantes nos bons mestres que ainda existem, resolvemos permanecer e usar todas as nossas forças para retrilhar o “caminho suave” do Judô.
Como todos sabem, ou deveriam saber, o Judô teve a sua origem no Ju-Jutsu, ao qual o Mestre JIGORO KANO acrescentou-lhe a doutrina filosófica, razão porque se passou a chamar JU-DO, DO significa DOUTRINA. Aqueles que quiserem praticar este esporte terão que aceitá-lo como ele é como foi criado pelo seu idealizador. Os que não se adaptam, não podem lutar por modificá-lo ou alterar seus princípios básicos; terão que buscas outros esportes onde se sintam melhor, pois se permitirmos que tal aconteça, seria o retrocesso e estaríamos devolvendo o Judô ao Jiu-Jitsu, o que não pode acontecer. JUDO: ame-o ou deixe-o.

Texto de uma revista da CBJ, escrito por Sérgio Adib Bahi

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